Castlevania: Lords of Shadow - Análise
Ainda que seja um ótimo jogo, Castlevania: Lords of Shadow exemplifica algumas mudanças problemáticas que acontecem na indústria dos games na atualidade.
A chamada "ocidentalização" de certas franquias é o primeiro deles. Antes o mercado japonês de videogames desfrutava de uma solidez que ditava tendências dos jogos eletrônicos no mundo todo. Agora, em declínio, as empresas nipônicas precisam submeter-se aos gostos dos jogadores dos EUA e Europa. Franquias como Devil May Cry (que passa por uma polêmica reestruturação) e Castlevania deixam suas raízes mais graficamente exageradas em nome de um realismo mais abrangente e genérico. Perdem-se assim características marcantes como a frenética trilha sonora orquestrada, os protagonistas exóticos/andróginos e outras afetações de estilo visando o lucrativo apelo global.
Outro problema sério é a falta de criatividade cada vez mais presente nos grandes lançamentos. Castlevania, outrora um marco do gênero plataforma, agora limita-se a enfiar em um título só jogabilidade copiada de God of War e Shadow of the Colossus (as escaladas e titãs). Espera-se mais inovação de uma franquia prestes a completar 25 anos.
O último jogo de Castlevania para os consoles de ponta, Castlevania: Curse of Darkness, lançado em 2005, agradava justamente pelo viciante estilo de jogo. Só as possibilidades em armamentos (criados a partir de elementos deixados em condições específicas pelas criaturas) eram capazes de gerar verdadeiras compulsões. Lords of Shadow, por sua vez, limita-se a levar um passo adiante tudo o que foi construído pela Sony em God of War. A linearidade das fases, a câmera fixa, os quebra-cabeças, a arma de longo alcance (ainda que o chicote seja marca registrada de Castlevania), o sistema de combos, a distribuição de pontos em habilidades... está tudo lá. E se Kratos desfruta de uma barra de magia, Gabriel Belmont, o novo protagonista de Castlevania, tem duas - uma de luz, outra de sombras -, além de uma terceira, de foco.
O aprimoramento funciona. A combinação de magias de luz (que enchem a energia) com as de sombras (mais devastadoras) torna o combate em Lords of Shadow estratégico como poucos. É dificílimo vencer as criaturas sem empregar as habilidades mágicas do herói... mas o problema é que elas duram muito pouco. Para enchê-las só mesmo jogando bonito, atingindo e não sendo atingido, o que afasta este Castlevania do estilo "button masher" de God of War e suas cópias.
Nesse ponto, o jogo da Mercury Steam, supervisionado por Hideo Kojima através de sua Kojima Productions, agrada bastante. O problema é que se levam horas - no mínimo 5 ou 6 - para começar a desfrutar de verdade dessa estratégia. Com as cada vez mais amplas possibilidades de entretenimento no mercado, contar com a paciência do jogador para esperar tanto tempo até que o título adquirido efetivamente comece a ficar divertido é uma aposta arriscada. A história, afinal, não tem novidade alguma... guerreiro perde a esposa, parte numa cruzada para ressuscitá-la e, no caminho, vingar-se das forças malignas que dominaram o mundo e a tiraram dele. Você já viu isso... não dá pra esperar que o gamer fique fascinado com essa aventura genérica, narrada por atores conhecidos de Hollywood como Patrick Stewart, Robert Carlyle e Jason Isaacs, e resolva jogar Lords of Shadow para saber como ele termina. É a experiência de jogo que conta - e o nome de Kojima, o criador do revolucionário Metal Gear Solid, deveria ter contado para alguma coisa aí além das longas cutscenes.
O prometido estilo de "mundo aberto" de Lords of Shadow é igualmente decepcionante. Todas as fases previamente visitadas podem ser novamente acessadas, mas é só isso. A linearidade, forçada frequentemente por paredes invisíveis, é presente em todas as fases, com itens escondidos aqui e ali, quase sempre exigindo um "faça um upgrade de sua arma e volte mais tarde" para que se possa obtê-los. Em um jogo que quer depender da paciência e do desenvolvimento da história para cativar o jogador, essa ideia de revisitar fases é absurda. Cada segmento já visitado (detalhado no mapa em porcentagem e revelando quais necessários itens permanecem escondidos) é completamente reiniciado a cada retorno, ou seja, voltam todas as cutscenes (que ao menos podem ser puladas) e chefes de fase, o que tira toda e qualquer relevância narrativa do game. Dessa forma, você não revisita a geografia das fases, mas o jogo velho, já vencido. Para o tipo de games que eu espero com nomes como Castlevania e Kojima, isso definitivamente não é algo que me agrade.
Enfim, curiosamente, mesmo com a falta de originalidade e os defeitos citados, Castlevania: Lords of Shadow entretém. Os belíssimos gráficos e o bom combate equilibram a balança. Não é o reinício arrasador que eu torcia para a série, mas ao menos funciona e mantém o nome "Belmont" vivo para as novas gerações.
Fonte: Omelete
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