Duke Nukem Forever: o game
Duke Nukem Forever surge como o pagamento de uma dívida de quase 14 anos e entrega muito do que prometeu. Mas, maravilhas tecnológicas à parte, o jogo que se transformou em mito pode ser decepcionante – o que não significa que ele não seja divertido. Duke Nukem Forever é uma anomalia, o subproduto de uma longa década que ficou para trás.
Um “strip club” de Las Vegas pode não parecer o melhor lugar para apresentar um jogo aguardado por tanto tempo, mas acabou sendo uma escolha apropriada.
Existe um chuveiro ali, posicionado estrategicamente entre duas cabines revestidas de veludo falso. No box do chuveiro, um balde com escovas e alguns outros objetos. Eu não passo muito perto – não quero saber exatamente o que tem dentro desse balde, mas não consigo parar de pensar no chuveiro. Ele, assim como as dezenas de TVs de tela plana e Xbox 360 espalhados pela sala, não combina com o resto da decoração. Mas os videogames e os pôsteres vão sair daqui quando o evento terminar, ao contrário do chuveiro, que é uma instalação permanente.
Depois de me instalar em uma cabine vazia, pego o controle do Xbox 360 e analiso os três níveis de dificuldade disponíveis: Come Get Some, Piece of Cake, Let’s Rock. E eu não penso muito, já que só tenho cerca de 90 minutos para jogar as oito primeiras fases do jogo nessa demonstração.
De volta às origens
Duke Nukem Forever começa em um banheiro, a câmera focando uma corrente de urina descendo pelo vaso sanitário. Estou em um vestiário e vejo um quadro na parede com as palavras “Operation Cockblock” e um desenho de um alien feito à mão. Vou até o quadro e, usando as alavancas do controle, rabisco alguma coisa em volta do desenho.
Um dos soldados elogia o meu plano brilhante, que nenhum de nós entendeu. Saio do vestiário direto para um estádio, onde enfrento a versão real da criatura que estava rabiscada em meus planos.
O sistema de controles é familiar para qualquer pessoa que já tenha jogado um shooter. Uma alavanca move Duke, a outra controla a visão. Um gatilho atira, o outro dá zoom. Passo alguns minutos fuzilando o alienígena, desviando de seus tiros e pegando munição do chão até que a briga termina.
E então, a reviravolta: não era o jogo, era um jogo dentro do jogo. Duke Nukem estava jogando um game baseado em sua própria vida. E enquanto ele jogava, duas irmãs gêmeas, “The Holsum Twins”, estavam ali para lhe dar prazer. Elas perguntam se o jogo é bom. E ele responde: “É melhor que seja, caramba. Foram 12 anos, afinal”.
Esse momento de metalinguagem, de um jogo dentro do outro, traz um certo alívio. Talvez os controles superficiais, os personagens e os cenários com aparência artificial fossem só um “estilo” desse jogo dentro de Duke Nukem Forever, não é mesmo? Não, não eram.
O mundo de Duke Nukem é muito parecido com os games do mundo de Duke Nukem. As pessoas têm uma aparência robótica, como se fossem manequins articulados, e os cenários são geometricamente muito arrumadinhos. Mas, felizmente, a personalidade de Duke e as piadas certeiras superam rapidamente todo esse estranhamento visual.
Nos 90 minutos que passei jogando Duke Nukem Forever, fui sendo conquistado aos poucos pelas frases de efeito e pela dinâmica de jogo explosiva. Mas demora para ficar bom.
Uma questão de honra
As duas primeiras fases resumem, basicamente, o que eu suspeito que seja todo o roteiro de Duke Nukem Forever. Ele é o salvador da raça humana, o mais popular, o mais famoso, o mais rico do planeta. Mas então os alienígenas chegam a Las Vegas, cidade do nosso herói, e estacionam a nave-mãe sobre o cassino de Duke, The Lady Killer. O presidente dos Estados Unidos e os militares pedem que Duke não faça nada, pois eles estão em “negociação de paz” com os aliens. Quando a situação se complica, sem qualquer explicação, você descobre que os aliens não estão invadindo a Terra, mas roubando as mulheres de nosso planeta. É então que Duke perde a paciência, faz o seu estoque de cerveja, escopeta e esteróides e parte para a guerra.
É na terceira fase, “The Duke Cave”, que começamos a ver elementos mais incomuns para um shooter. E eu aprendo duas coisas: primeiro, Duke não aguenta muita bebida. Quando ele toma a primeira cerveja, a visão fica borrada, mas ele fica mais resistente. Depois aprendo que Duke pode abandonar suas armas e partir para a ignorância à base de socos turbinados – basta tomar alguns esteróides.
Mas as fases, a dinâmica de jogo e o visual ainda parecem um pouco parados no tempo. A quarta fase, por exemplo, “The Mothership Battle”, coloca Duke no controle de um canhão gigante com a missão de derrubar a nave-mãe inimiga, mas sem deixar a arma esquentar muito. Na quinta fase, “The Lady Killer”, temos o reencontro com o raio encolhedor, que transforma nosso herói em um bonequinho. Então a fase se resume a pilotar um carrinho de controle remoto, desviando de inimigos e de destroços do cassino enquanto você tenta escapar de lá.
Bobeira contagiante
É na missão The Lady Killer Part 2 que eu percebo, de repente, que estou gostando bastante do jogo que inicialmente julguei como “muito simples, com visual superficial”. São os pequenos detalhes, como o fato de a “vida” de Duke ser medida pelo seu ego. Você não recupera energia usando kits de primeiros-socorros, mas, sim, olhando no espelho, levantando peso e fazendo atividades do gênero.
Também existem os jogos dentro do jogo, como a incrível máquina de pinball, e o retorno de alguns “puzzles”, coisa que não vemos com muita frequência em jogos como Call of Duty e Medal of Honor.
Mas o que realmente me conquistou foi como o caráter bobo do jogo, com as frases de efeito, piadinhas e caracterização exagerada de Duke, fez com que eu agisse de uma forma igualmente boba. E de repente eu me via criando minhas próprias frases de efeito ao explodir um bando de aliens. E eu, inexplicavelmente, acabei me divertindo com uma lata de lixo. Fiquei atirando essa lata na cara do general quando ele apareceu para fazer seu discurso. Lata de lixo na cara. Lata de lixo na cara. Lata de lixo na cara. Isso me diverte, e pouco importa se o general nem reage aos meus ataques. É como uma gargalhada particular, um humor que revela a “criança adulta” em mim.
Quando chego na última fase da demo, “Vegas in Ruin”, estou curtindo como nunca, sem me preocupar com os personagens rasos, com a falta de uma boa história ou com o fato de todos os mapas serem um labirinto para cobaias de laboratório.
E quando meu teste termina, com uma cena envolvendo testículos, eu realmente queria continuar jogando. Duke Nukem Forever é o que se esperaria de algo que está sendo feito por cerca de 13 anos? Muito provavelmente, não. Mas valeu a espera? Para fãs de Duke Nukem, provavelmente valeu.
*Duke Nukem Forever (PC, PS3, Xbox 360) está sendo desenvolvido pela Gearbox Software e tem lançamento previsto pela 2K Games para 3 de maio de 2011.
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