quarta-feira, 22 de setembro de 2010

F1 2010 - Análise II

A Codemasters sempre foi uma produtora virada para as provas automobilísticas. Quer nos fins dos anos oitenta, bem como na era de ouro dos anos 90, com o fantástico Colin McRae Rally e a série TOCA Race Driver. Pensar em Codemasters é pensar no que melhor já se fez a caminho da simulação automóvel. Por essa razão, foi com entusiasmo que recebi a notícia que um novo Formula 1, com a licença oficial FIA estava nas mas da tão carinhosa Codi.
Mas, embora tenha que reconhecer a sua importância, principalmente no fim dos anos noventa, inícios deste século, também tenho que referir o receio inicial na forma como a Codemasters iria pegar na licença. Seria um Formula 1 apimentado com as últimas modas de mistura de simulação/arcade, tentando agradar um pouco a cada aficcionado por automóveis, ou estaríamos perante um simulador puro e duro onde o realismo dita o sucesso e insucesso de cada piloto? A resposta? As duas.
Falar de Formula 1 é falar da sua vertente real, no estado do desporto. Após alguns anos em constantes mudanças e reformulações(não esquecer os escândalos), a prova máxima do desporto automóvel está ao rubro, não deixando de lado algumas velhas guardas como Michael Schumacher, que apesar dos seus 41 anos de idade, e dos já sete campeonatos, ainda continua a encantar em cada circuito. Mas são os mais novos, como Sebastian Vettel, Mark Webber (actual líder), Alonso, Button e o Lewis Hamilton, este em segundo lugar, que ditam a actual história da Formula 1. Sendo as próximas provas todas fora da Europa, onde os dois primeiros se encontram separados por apenas 5 pontos, e 3 por equipas, avizinha-se um final do campeonato deveras avassalador. Pena é que nas lides virtuais, eu não tenha tido tanto sucesso (bah Pedro de la Rosa).


Sendo um produto oficial da FIA, temos todas as estatísticas, dados, circuitos, pilotos, equipas, etc, actualizadas, para conferir um maior realismo ao jogo. Embora esteja em falta as actualizações dos pilotos Sakon Yamamoto e Nick Heidfeld, que substituíram, respectivamente, Karun Chandhok na equipa Hispania Racing e Pedro de la Rosa(eu bem avisei) na BMW Sauber F1. Podemos assim contar com 24 pilotos, 12 equipas e 19 circuitos. Interessante é termos por exemplo o circuito Korean International Circuit, da Coreia do Sul pronto para podermos competir, algo que ainda não ocorreu na realidade, pois apenas terá a sua participação na Formula 1, em 24 Outubro.
Para além destes dados reais, o jogo ainda conta com as regras (algumas extremamente rígidas) oficiais da FIA. Isto quer em pista, quer na configuração do carro, como por exemplo a tão complexa, estranha e obrigatória escolha de pneus. Podemos competir num Modo Carreira, onde podemos escolher entre, três, cinco a sete temporadas. Algo estranho esta escolha, pois, porque não podermos correr em oito temporadas seguidas? Temos também os Time Trials, e o modo Grand Prix, onde podemos escolher a nosso belo prazer a configuração de uma temporada. Desde a lista de circuitos, voltas, tempo, etc.
Embora este último seja um extra interessante, não consigo ver o seu apelo, pois se temos um modo Carreira que simula a temporada actual, em nada vem trazer ao jogo, senão mais um menu. E claro não deixar de lado o modo multi-jogador, onde podemos competir contra doze corredores num modo Grand Prix, escolhendo a pista e as suas configurações. Não queria deixar de lado uma interessante opção dentro do Time Trails, que é a de podermos escolher 8 carros diferentes, usando por exemplo cada amigo e tentar, em corrida livre, contra um "carro fantasma", obter a melhor volta.
A Codemasters tentou dar uma componente humana ao jogo, quer no formato boxes/roulotes(já testado em DiRT 2), onde podemos "gerir" a nossa participação e aceder aos diversos modos e menus, bem como interagir com os jornalistas. Em resumo, em nada abona para o realismo. Os modelos dos personagens, a forma em que somos abordados, tudo parece robotizado e sem nexo no que realmente pretende conferir, que é uma ligação directa ao desporto, para além das provas em si. Podemos também gerir a nossa carreira, mas isso resume-se a ver o contrato da época e as diversas estatísticas. Pouco ou nada acresce em realismo. A suposta sensação de estarmos dentro de uma grande competição nunca foi conseguida.
Ainda bem que F1 2010 não é apenas um gestor de Formula 1 e passando para as boxes as coisas mudam de figura (ok, tirando novamente os robôs que nos acompanham). Temos ao nosso dispor imensas opões, quer de configuração do carro, bem como sobre o que se passa em cada sessão. O jogo deixa que usemos as opções conforme o nosso desejo por realismo. Queremos ser fieis e participar em todos os pormenores de um fim-de-semana de Formula 1? Então tudo está ao nosso dispor. Os treinos, as qualificações, os ajustes do carro. Se chove, se dá sol, se irá mudar o tempo, quais as previsões.
Algo interessante adicionado a este F1 2010, é a possibilidade de cumprirmos com determinados objectivos impostos pela equipa(aqui tudo normal), e com isso podermos adquirir pontos de pesquisa e desenvolvimento para o carro. Isto apenas na sessão de treino. Isto permite por exemplo, correr não apenas contras os adversários, mas também contra o nosso próprio colega de equipa. Pois em caso de adquirirmos primeiro os pontos, seremos prestigiados com as melhorias.
Um dos pontos altos do jogo é a sua simulação, principalmente nas suas pequenas subtilezas. Em primeiro lugar, simulação também quererá dizer em termos de design, gráficos e estado climatérico. Tudo em uníssono, gera um realismo ímpar, principalmente no que refere ao estado do tempo, que é dinâmico. Podemos começar a corrida com céu azul, e acabar com uma chuva forte. Podemos começar com chuva e acabar com o piso quase seco. Este dinamismo confere um estado de realidade, e gestão que nenhum outro jogo conseguiu igualar. As pistas estão muito bem recriadas, com as diferentes particularidades reais, que nos fazem crer que estamos mesmo dentro da Formula 1.
Em termos de configuração do carro, não senti demasiadas mudanças, principalmente na obtenção daquela curva mais rápida, ou na última mudança mais longa para conseguir tirar X tempo. Às vezes senti que o "jogo" se adaptava à minha condução, isto de uma forma não declarada(será o tal arcade?). Em termos da IA dos outros pilotos, passam de uns incompetentes para cães raivosos sedentos de vitória, isto conforme escolherem a dificuldade. Dificuldade que não se resume apenas aos condutores, mas também nas ajudas que queremos ter. Controlo de tracção, de travagem, guias de marcação, temos tudo ao nosso dispor.
Ainda sobre os pilotos controlados pela IA, esta é uma das lacunas do jogo. Quando estamos perante uma IA mais baixa, tudo é simples, os carros andam como que em passeio. Pelo contrário, na dificuldade máxima, os pilotos correm muito bem, mas.... quando estamos em situações de 1 para 1, ou se estamos no meio da pista, mesmo numa recta, não foram raras as vezes que simplesmente vieram contra mim, não importando se estava ou não na frente. E claro, com as regras no máximo, eu é que foi o culpado, deitando por terra o que tinha entretanto feito. Este problema também acontece durante um aglomerado de carros(com quebras de frame-rate, principalmente na chuva), onde podemos quase ter a certeza que não sairemos ilesos.
Outro factor que desilude, é na questão dos danos nos carros. Quem acompanha a Formula 1 sabe que um pequeno erro, de ir contra um muro de pneus, deita por terra a prova inteira. Para além disso, a simulação neste aspecto é pouca. É preciso um mudo de betão, a 300kmh para podermos ficar sem rodas(ok devo estar a exagerar). Mas em suma, não existe um simulador de danos reais, apenas danos circunstanciais, e de peças a voar, que muitas vezes nem sei de onde saíram, visto o carro ficar esteticamente igual.
F1 2010 prima principalmente pela sua capacidade de simular um Formula 1, bem como todas as pistas. Graficamente muito aceitável, com excelentes pormenores sonoros, como quando certos carros passam por nós, ou por simplesmente estarem do outro lado do muro, ou curva. O grande problema, é a falta de sensação de estarmos dentro de uma temporada de Formula 1. Cada prova é em si bem recriada, mas como um todo, parece antes que estamos a competir de forma individual.
Para além disso posso afirma que é obrigatório o uso de um volante. Não que não se consiga jogar com o comando, mas a questão está na experiência de jogo. Efectuar uma curva longa como em Monza ou em Melbourne, Austrália, poderá ser uma tarefa complicada, principalmente se quisermos perseguir e acabar por ultrapassar outro corredor. Algo que com um volante, tudo é mais real e mais simples. Como por exemplo o já bem mais acessível Logitech G25 Racing Wheel.
Neste caso tivemos a oportunidade de efectuar alguns testes e a impressão é muito positiva. A sensibilidade nos pedais é ajustada à forma como os F1 normalmente respondem às travagens tardias e de abrandamento imediato, como tendo pé a fundo o carro dispara facilmente e nas curvas intermédias responde bem à solicitação de média velocidade e picos de aceleração até à próxima engrenagem. Diga-se que o volante assim que ligado é imediatamente reconhecido e a partir daí podem aceder à área de configuração para ajustar o "force feedback", a dureza da direcção e mais alguns detalhes. Quanto às mudanças claramente preferimos engrenar através das patilhas colocadas no volante. Da primeira à sétima velocidade, os F1 são muito rápidos, pelo que é imprescindível ter sempre os dedos perto do sistema de mudanças, em função das constantes mudanças no ritmo de corrida. É, claramente, distinto e único usar este F1 2010 com um volante.
Existe algo que abona a favor de F1 2010. A ausência de um outro jogo que lhe possa fazer competição directa. No momento é deveras o melhor simulador existente no mercado, mas não que isso possa ser algo de muito bom. Como referi, tem excelentes pormenores, mas não consegue atingir a excelência em todos eles. A falta de um sistema de gestão de carreia mais dinâmico, a falta de realismo da IA em dificuldade avançada, as regras demasiado rígidas, não levando em conta o erro humano, a ausência de uma sensação de um estado maior em termos de temporada, e uma simulação de danos pouco realista, retiram um dos maiores factores pelos quais desejo um simulador de F1. O seu realismo. Posso ser perfeccionista, mas como é bom passar por Hamilton, que numa curva foi para dentro da areia e de lá não saiu. Isso nunca aconteceu em F1 2010.

By Eurogamer

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