segunda-feira, 25 de abril de 2011

“Realengo dos Games” ou “Jornalismo dos Pobres”? por Ricardo Farah !!

Confiram essa matéria/desabafo de Ricardo Farah do TechTudo: Se existe alguém a quem eu devo agradecer todos os dias por ter me feio criar apego aos games esse alguém é meu pai.
Minha mãe conta que, pouco antes de eu nascer, ela e meu pai juntavam o pouco que ganhavam para preparar todo enxoval do filho prestes a nascer. Sabe o que meu pai fez? Foi até uma grande rede de lojas em SP e investiu as economias em um novíssimo Atari 2600.

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Por isso que eu digo que realmente nasci com o joystick nas mãos. Comendo cereais no café da manhã e passando todas as tardes jogando todos os novos games que meu pai trazia. É estranho, mas se eu puxar na minha memória quais foram os 10 games mais importantes para minha infância, a lista sempre se repete:

- Super Mario World
- Sonic
- Day of the Tentacle
- Streets of Rage
- Golden Axe
- Doom
- Duke Nukem
- Mortal Kombat
- Carmageddon
- GTA

Notou um padrão aí? Pois é, com exceção dos três primeiros títulos, todos os outros incitam a violência. Você não leu errado. MEU PAI me apresentou as estes games. Eu cresci matando demônios, espancando punguistas, arrancando corações, atropelando civis e roubando inocentes – tudo isso com o aval dos meus pais, em um mundo de fantasia chamado videogame.


Eu cresci, estudei, me formei, casei e arrumei emprego. Me sinto uma pessoa mentalmente saudável e conscientemente claro dos meus limites como ser humano. Sei disso porque eu cresci jogando videogames. Não posso simplesmente pegar uma metralhadora e sair pelas ruas fazendo a limpa em que achar necessário (ainda que bancar O Comediante para acabar com criminosos seja algo deveras interessante). Os games me ensinaram isso.

O jogo Bully foi lançado em 2006, mas não foi por causa dele que o bullying existe nas escolas. Bully existe desde que a figura da instituição de ensino foi criada no mundo contemporâneo que estamos. Seu avô sofreu bullying.

O que eu quero dizer é que não existe relação alguma de que games incitam violência na vida real. Existem estudos que levantam bandeiras de todos os lados. Mas nada prova nada. Assim como ninguém pode provar que semianalfabeto não deve ser presidente da República ou que assistir ao filme Amor Estranho Amor incita fazer “sexo com os baixinhos”.

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Parece que o tal Wellington Menezes de Oliveira, protagonista da chacina em Realengo, jogava games. Mas o que isso realmente importa quando estamos falando de alguém que viveu a vida que ele viveu, teve a família que teve e, principalmente, conviveu no ambiente que esteve?

O buraco é mais embaixo.
Se os games tivessem um papel tão grande na vida de um assassino como ele, o mesmo deveria ser dito da televisão, da internet, do cinema, da MúsicaPobreBrasileira, dos ataques nas favelas cariocas, das notícias sensacionalistas que estampam todas as capas dos jornais brasileiros…

De verdade, por quê a mídia está tão preocupada em continuar a informar a população as novidades do já mundialmente conhecido “Caso Realengo”? Pior ainda, o que leva os supostos especialistas associarem os jogos eletrônicos com o caso?

Digo isso de todos os especialistas. Dos psicólogos ao delegado que cuida do caso. Da atendente social aos jornalistas. Sim. A única espécie que não deveria cometer falhas é a que infelizmente tem fraquejado em prol da atenção da população: o jornalista.

Jornalista que usa artifícios para sustentar sua teoria de que assassinos só existem graças aos jogos eletrônicos é profissional da pior espécie. Pior ainda é associar os clássicos GTA e Counter-Strike ao menino Wellington.


Ok, as investigações levam para o fato de que Wellington conhecia as palavras Grand Theft Auto e Counter-Strike. Mas desde quando estes games trazem como mote principal “matar mulheres, crianças e idosos afim de acumular pontos”? Aliás, existe ESCOLA em algum destes jogos?

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Wellington, como todo jovem que joga videogame, deveria mesmo era pegar prostituta em GTA e balear policial corrupto em Counter-Strike. Se ele não fazia isso, definitivamente ele gastava seu tempo em ler tutoriais na internet em como manejar uma arma de fogo ou como deveria fazer para adquirir uma arma ilegalmente no Rio de Janeiro. E eu não preciso de nenhum mestrado ou experiência em investigação criminal para garantir isso.

Você também não precisa. Assim como você também sabe que pode muito bem dar “uma Googlada” aí e aprender a manejar um Speed Loader tão bem ou melhor do que Wellington.

Difícil mesmo é engolir que GTA tem criança e CS tem velho. Quando GTA tiver criança a Rockstar fechará suas portas. Porque ela sabe os seus limites. Porque games tem, sim, limites. Difícil é dar limites para jornalistas que não sabem apurar fatos, checar fontes e jogar videogames. Já diriam os sábios da antiguidade: cada profissional na sua área.

O fato é que o caso em Realengo já deveria ter sido enterrado pela mídia há muito tempo. Mas esse é o típico caso semelhante ao do casal Nardoni. Dá ibope, vende revista, ganha retwitte… Por isso este assunto está longe de acabar. Infelizmente.

Só espero, assim como todos os amigos jornalistas especialistas em games de verdade, que nossos colegas de profissão sejam iluminados como uma boa estrela de Super Mario World e deixem de usar os jogos eletrônicos como muleta para sustentar suas teses editorias. Que deixem as famílias das vítimas descansarem em paz.

Porque videogame, meu amigo, é coisa séria. E eu levo isso a sério.

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